quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Memórias de uma lojista

"Bom dia senhor, posso ajudar?"

O dia-a-dia em uma loja costuma ser sempre a mesma coisa de uma forma totalmente diferente. Acontece nada e tudo ao mesmo tempo. Tem o mais variado tipo de pessoas, mas todas são a mesma coisa: clientes.

"Vamos entrar e dar uma olhadinha..."


"Vamos entrar senhora?"

Começa com o sorriso simpático da vendedora lhe convidando a entrar e explorar o grande universo que tem dentro de uma loja.
Então você pode ver o dono da loja sisudo, preocupado em vigiar a loja para não ser roubado - "Olha a porta Leni!"
A vendedora meio lesada que passa o dia mexendo nos sacos de camisas.
E a moça do caixa que atende uma pessoa ou outra no intervalo das leituras do seu livro ou jornal.

"Temos essas aqui de R$22,99 e essas de R$16,99..."


Temos aquelas pessoas que chegam sorrindo e não param de sorrir jamais.
Tem também aquelas que não olham na sua cara e nem falam com você.
Os que dizem que só estão dando uma olhadinha.
O cliente fiel... "Só compro as minhas coisas aqui!"
Os que só olham a loja inteira para perguntar se tem aquilo que eles já viram que não tem.
E aqueles que só faltam sair correndo quando ouvem o preço.
Outros pedem pra você escolher e só têm o trabalho de ir no caixa pagar.
Ainda tem os que pagam e quase esquecem de levar a mercadoria - "SENHOR! A sua sacola."


"Acabou... Mas a senhora encontra no próximo quarteirão."


Encontra o camelô imitando um 'viado' da TV... "Ai como eu sou bandida!"
O menino que vende raquete 'mata-mosquito'... "Mata até gente!"
Tem cara que vende CDs e coloca a mesma música 1589 vezes seguidas... "Eu descobriiiiiiiiii..."
Aí passa aquele bêbado e começa a dançar... "Vaaaaaaai!"
E o tio do som volante que tenta falar bonito... "Estamos convidando você que quer tem uma vista límpida, bonita."

"Mais alguma coisa? Temos meias, cuecas..."

"Tem calção verde-limão e blusa branca?"
E aquelas pessoas que se destacam:
A vovózinha que está doida para puxar conversa... "Saúde, né? É bom... meu marido morreu esse ano."
O cara que vai evangelizar... "A gente vai lá pro Pirambu, e se não se identificar, é bala!"
A senhorinha que veste o bêbado do seu bairro..."Eu comprei pra ele uma calça de 29 reais e ele trocou por UMA dose de cana..."
O 'véi bêbo' que chega todo dia sujo, compra uma camisa nova, se troca e vai embora... "Se eu chego assim, minha namorada não quer saber de mim."
Aqueles com sexo indefinido - "Bom dia senh...or..a?
A mãe que tenta de tudo para que a filha obedeça... "Se calça ou eu vou chamar o palhaço preto pra comer o teu pé!"
E a mãe triste comprando roupa para o uniforme do filho que está na prisão... "Eu podia estar comprando uma calça jeans..."
Ou aquela irmã que tenta disfarçar... "Ele quer dessa cor. Mas ele não gosta de nenhum detalhe, nem bolso."
Ou ainda a tia que tem vergonha... "Tu sabe pra que é isso, né?"

A gente vê tanto certos tipos de coisas que acaba ficando cega e insensível à natureza dos fatos. Então, você se depara com um lampejo de emoção, um pequeno, verdadeiro e sincero sorriso, de uma mãe que finalmente encontrou a roupa do filho, que lhe comove sem querer, fazendo com que você perceba, como que por uma epifania, tudo aquilo que você já tinha visto, mas ainda não tinha se dado conta.

"Obrigada, senhora! Tenha um bom dia, um feliz ano novo e volte sempre."


"Volte sempre!"

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