domingo, 25 de dezembro de 2011

Estranha e mirabolante viagem

Não é novidade para quem me conhece que eu tenho uma verdadeira paixão por livros. Procuro ler de tudo, desde os clássicos da literatura até os best sellers, bons ou ruins, mais comentados. E eu sou uma "devoradora de livros": quando começo a ler um livro que me agrada, só sossego quando o termino, geralmente em poucos dias ou em uma semana no máximo.

Entretanto, a minha última leitura foi demasiadamente penosa parta mim. Demorei cerca de QUATRO meses para conseguir terminar de ler "As Viagens de Gulliver" (Travels into Several Remote Nations of the World, in Four Parts. By Lemuel Gulliver, First a Surgeon, and then a Captain of several Ships), de Jonathan Swift. Parecia que não terminava nunca! Não que o livro seja ruim - eu não me atreveria a afirmar tal coisa -, mas ele é um tanto prolixo, demasiadamente descritivo e, portanto, entediante. Ah! E não tem um único diálogo. Tá bom que é no estilo "diário de viagem", mas...


"Luiza, você está falando de um livro do século XVIII! Lógico que ele tem um linguagem mais difícil e é um pouco mais detalhista". Tá! Eu sei disso. Mas já li muitos outros livros tidos como clássicos da literatura que não foram tão penosos de ler como esse foi.

Mas, vamos à história.
O livro, como o título sugere, retrata as viagens de Lemuel Gulliver, cirurgião britânico que posteriormente também se torna capitão de navio. Mas suas viagens não se restringem aos quatro cantos do mundo já conhecidos. Ele sempre acaba sendo separado da tripulação e aportando em um país totalmente desconhecido e diferente de tudo o que se conhece.
Primeiro ele chega à terra dos liliputianos, seres humanos em miniatura, em outra viagem vai a Brobdingnab, terra dos gigantes. Na terceira, chega à Ilha volante, com seu habitantes deformados, passando pela Ilha dos feiticeiros mágicos (ponto mais interessante), por Luggnagg, onde tinha alguns habitantes imortais, e pelo Japão. A última viagem foi ao país dos Houyhnhnms, onde os dotados de razão eram os cavalos (ponto mais extraordinário do livro).

Um houyhnhnm e um yahoo.
Então vai o meu principal problema com o livro: o cara é um verdadeiro mau agouro para viagens. Suas embarcações sempre acabam naufragando, sendo roubadas e, por último, há um complô no qual ele é expulso do navio. E ele continua insistindo em viajar. Mesmo passando meses, anos em terras estranhas e deixando a sua família ao relento (por que ele tem esposa e filhos). Ele volta de uma viagem de cinco anos, passa uma semana em casa, engravida a esposa e vai embora.
Mas até aí, tudo bem. O problema é a incrível subserviência que ele tem com os povos descobertos, reduzindo-se de imediato a súdito TOTALMENTE submisso a não importa que tipo de povo, insistindo em chamar "seus donos" de "amo". Alguma submissão pode até ser necessária para sobreviver, mas a do personagem é extrema, exagerada e irritante.

O povo de Brobdingnag, os gigantes.
Agora, o que me fez continuar a ler o livro: Swift usa o contato de Gulliver com os diferentes povos para fazer uma análise/crítica da sociedade e instituições britânicas (universal) e até sobre a História e os seres humanos. Ele denuncia, de forma até irônica, as corrupções, falhas, comportamentos de seu país natal e de sua gente mostrando, através dessas novas sociedades, que "menos é mais". O mundo "moderno" é tão cheio de regras para funcionar que não percebe que elas só o fazem desandar. O personagem acaba chegando ao ponto de, decepcionado com a sua própria espécie, preferir viver com os houyhnhnms ou totalmente recluso a ter que voltar a viver e ser influenciado pelos yahoos (tipos humanoides do país dos houyhnhnms - Gulliver passa a utilizar o termo para se referir a qualquer tipo de ser humano). Exagerado? Completamente. Mas faz sentido a partir do momento que se abre os olhos para todas as mazelas antes obscurecidas pelo costume e se tem contato com uma sociedade mais verdadeira, justa e funcional. 

O meu livro
De qualquer forma, estou satisfeita de ter me obrigado a terminar de ler o livro. Não é uma das leituras mais agradáveis, mas nem tudo o que é agradável pode ser considerado bom (se é que você me entende), e vice-e-versa.


E, como o post já está demasiadamente longo, eu fico devendo falar das adaptações e algumas curiosidades sobre o livro. Só não sei ainda se aqui ou no Postando 7, ou nos dois. Então, até o próximo post!

2 comentários:

  1. Legal :) Antes me forçava para terminar de ler livros, coisa do tipo 'vou ler 20 páginas por dia'. Até que cansei, parei de ler(acho que lia mais pelo status de 'intelectual')... depois de um tempo voltei, com mais calma, sem a ânsia de amanhã ser um livro mais sábio que hoje. E, para mim, está sendo bem mais prazeroso a leitura. Se pego um livro e vejo que não vou me interessar, abandono de imediato, mas antes tento observar o que falta em mim pra melhor apreciá-lo, para quando, porventura, vier a satisfazer tais pré-requisitos, possa recomeçar a leitura. Mas nem tudo são horrores...nessa de ler sem interesse li o 'a náusea', que alguns dizem ser muito tedioso. Acho que o momento em que li pela primeira vez influenciou no meu interesse irracional pelo livro...e agora, mais estragado pela vida, reli e achei fantástico!
    Do Gulliver lembro o filme(antigo)...pelo que descreveu, não me interessaria muito pelo livro :P

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  2. Eu me forço a ler mais pela curiosidade mesmo. Já deixei três livros pela metade e fico indignada a té hoje por não saber o final (e eu tenho preguiça de começar tudo de novo).
    Então eu aprendi a não forçar a barra. Vou lendo de pouquinho em pouquinho, começo a ler outro livro no meio e consigo chegar até o final me sentindo vitoriosa e achando que o livro nem foi essas coisas toda de "difícil".

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